O peso de ser Kendrick Lamar
Ser líder nunca foi fácil. Comandar um grupo vai muito além da semântica do verbo, um mentor excepcional se torna influência para seus companheiros, assim, aumentando a responsabilidade do cargo. No dia 19/08/2011, Dr. Dre, Snoop Dogg e The Game escolheram Kendrick Lamar para receber a tocha de Compton, transformando o jovem no representante da cidade na cultura hip hop. No ano seguinte, com o lançamento do álbum “good kid, m.A.A.d city”, desta vez, a crítica e os fãs escolheram Kendrick como o líder da nova escola do rap. E toda essa responsabilidade pesou no novo prodígio.
As suas expectativas e as alheias sobre o seu próximo trabalho começaram a cercá-lo. Mesmo já tendo afirmado sua relevância, agora era preciso se reafirmar. Desse modo nasceu o disco “To Pimp A Butterfly”, este é provavelmente um dos maiores e melhores discos de todos os tempos, isso pode vir a soar prepotente de primeira para qualquer leitor, porém, a obra consegue sustentar tal peso, ele realmente havia se superado. Esse disco conta com Jazz, Funk, Fusion, R&B e acima de tudo Hip Hop de alto calibre, um verdadeiro retrato sobre a história da música negra e acima de tudo, sobre a figura de qualquer pessoa com a pele preta nos Estados Unidos.
Porém, Kendrick não passou ileso por aquelas expectativas, elas consumiram sua saúde mental durante a criação do projeto e isso é refletido em “u”, sexta faixa do disco. Enquanto lidava com a atenção e admiração do globo, sua irmã adolescente engravidou e um de seus melhores amigos morreu após ser baleado. Mesmo se tornando referência para milhões e ampliando o alcance de sua mensagem, Lamar se distanciou de sua família e se descobriu muitas vezes impotente: ’Onde estava a tal influência que você dizia ter?/Você pregou em frente de cem mil mas nunca falou com ela’. Essa seria realmente a nova maior figura do rap?
O líder da nova escola do rap passou a olhar o espelho e ver uma farsa, pensamentos negativos e raivosos tentavam tomar sua mente e “u” é a externalização destes, sendo a representação perfeita de sua situação emocional. Kendrick Lamar libera todas suas dúvidas,insatisfações e culpas com sua voz delirante, demonstrando o pânico que aflige sua mente, tudo isso ao eco de jazz e sons de garrafas de bebida. Sendo a faixa uma carta aberta sobre a fragilidade e culpa que cerca o rapper mesmo com todo o dinheiro e poder do mundo.
“u” torna o ouvinte íntimo do rapper e seus problemas por 4 minutos e meio, a dor que é compartilhada pelo rapper não é única e para todos que se identificam com esta, existe um contraponto. Na faixa “i”, a penúltima do disco, Kendrick Lamar exala positividade, mesmo com a negatividade que cerca os seus pensamentos e suas ruas, o rapper precisa ser positivo e amar a si próprio para poder ser quem Compton e sua comunidade precisam. Pois é preciso também passar uma mensagem esperançosa para todos e acima de tudo para o próprio Kendrick. Afinal, o rapper é um líder.